quarta-feira, 30 de setembro de 2009

TESTOSTERONA

"Em 1992,uma paciente da médica holandesa Stephanie Van Goozen, da Universidade de Utrecht, na Holanda, iniciou a transição para o sexo masculino numa experiência que acabou virando referência entre os estudos de endocrinologia. Desde criança, a mulher - cuja identidade é preservada até hoje - desejava ter nascido homem e, naquele ano, decidira mudar definitivamente de sexo. Ela passou a tomar injeções de testosterona para que seu corpo adquirisse características masculinas, preparando o terreno para a cirurgia que, mais tarde, completaria a metamorfose. Depois de três meses de tratamento, no entanto, ela passou a ver o mundo com outros olhos. Começou a perceber melhor todos os objetos à sua volta, mas não conseguia prestar atenção nos detalhes. Tinha problemas em se expressar, confundia as palavras. Mas passou a formular expressões mais concisas. Antes costumava fazer várias coisas ao mesmo tempo, agora focava uma coisa por vez.
Perdera grande parte da coordenação motora fina e, em muitas ocasiões, deixava os objetos caírem de suas mãos. "Não era o que eu esperava. Preferia continuar do jeito antigo", afirmou na época.
O caso é peculiar, mas não inédito. "As sensações descritas por essa paciente são comuns a mulheres que tomam grande quantidades de testosterona", afirma o psicólogo James Dabbs, da Georgia State University, nos Estados Unidos. "De certa forma, elas começam a pensar e a sentir como um homem. " James é um dos maiores estudiosos dos efeitos psicológicos da testosterona. Desde 1935, quando foi isolada pela primeira vez, essa substância jamais deixou de ser alvo de discussões, seja entre os cientistas que a estudam, seja entre os esportistas que a utilizam para conseguir melhor desempenho em competições. A testosterona é o principal hormônio masculino. O problema é que, até hoje, ninguém sabe ao certo a forma como ela atua no organismo, nem quais são todos os seus efeitos. "Provavelmente ele define muito mais características do que imaginamos", diz James.
A testosterona tem um papel importante na diferenciação dos sexos. Apesar de ser encontrada em ambos, a concentração do hormônio no sangue dos homens é até dez vezes maior do que no das mulheres."
"..., há evidências que sugerem a influência do hormônio no comportamento. "Pessoas com alto grau de testosterona são freqüentemente mais agressivas e aceitam correr mais riscos", diz o sociólogo americano Alan Booth, da Pennsylvania State University. Autor de um estudo com veteranos da Guerra do Vietnã, Alan constatou que os soldados com maiores níveis de testosterona se engajaram com mais freqüência em situações como enfrentar o fogo inimigo, encontrar minas, desafiar emboscadas, ver combatentes mortos ou matar adversários. Da Mesma forma, James Dabbs analisou mais de 700 presidiários e constatou que os que haviam cometido crimes violentos e que violavam com freqüência as regras da prisão tinham mais testosterona que os que nunca haviam ameaçado, ferido ou assassinado alguém. James repetiu essa pesquisa em um presídio feminino e os resultados foram os mesmos, o que confirmou a influência do hormônio em ambos os sexos.
Além da agressividade, a testosterona estimula também o libido. Estudos feitos por Richard Udry com adolescentes mostraram que um alto nível do hormônio aumenta a predisposição a ter relações sexuais. O mesmo acontece com adultos. Só que entre esses, o maior nível de testosterona costuma acarretar problemas no casamento. James Dabbs e Alan Booth analisaram as relações amorosas de 4.462 militares entre 30 e 40 anos e perceberam que os homens com testosterona alta eram menos propensos a se casar e se divorciavam mais facilmente. Além disso, os campeões da testosterona tinham o dobro de chances de ter relações extraconjugais do que os que apresentavam níveis mais baixos. Pois é, risco e agressividade podem não combinar com a vida conjugal."
"..."Pessoas com níveis mais altos desse hormônio são mais auto confiantes, rudes, inquietas e sorriem menos", afirma James. "Elas também são mais propensas ao consumo de álcool e ao fumo, mas ainda não sabemos por quê", diz Alan. Além dessas, a lista de peculiaridades que a testosterona pode produzir - mas que ainda não foram provadas definitivamente - inclui uma maior noção espacial, uma menor preocupação com o conforto, a tendência a tomar decisões mais rapidamente, com um foco mais estreito e bem definido.(Leia-se : características essencialmente masculinas.) Em contrapartida, acredita-se que pessoas com níveis mais baixos de testosterona são mais amigáveis, mais comunicativas, atentas aos detalhes e capazes de exercer diversas atividades simultaneamente. " (Leia-se: características essencialmente femininas).
"A origem da relação entre níveis de testosterona e padrões de comportamento, para os pesquisadores, pode estar no nosso passado de caçadores. "Milhares de anos de evolução devem ter selecionado os homens com maior nível de testosterona", afirma James. Força , resistência, concentração e libido eram muito importantes em um ambiente em que era preciso caçar animais selvagens e disputar as mulheres para conseguir procriar." "Para as mulheres, no entanto, a habilidade manual e o cuidado com os filhos eram mais importantes do que a força física. Ou seja: a tetosterona só traria prejuízos."
"A única atividade que apresenta níveis médios de testosterona superior aos jogadores de futebol americano - acostumados a muita violência e competição - é a dos atores. Esse mesmo estudo colocou padres e pastores como os profissionais com menor índice de testosterona"
"Acredita-se que o hormônio deixe as pessoas mais impulsivas e com menos paciência para estudar durante horas ou ficar o dia inteiro sentadas atrás de uma mesa."
"Níveis muito altos de testosterona estimulariam o sujeito a correr tantos riscos que ele acabaria morrendo antes de procriar", diz James. Outros estudos indicam que indivíduos castrados - que quase não produzem testosterona - têm a sua expectativa de vida aumentada em 13,6 anos.

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